Eles seguem-me, mas eu não faço puto de ideia para onde estou a ir...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dialogar ou debater?

Debater não é o mesmo que dialogar. Quem debate quer vencer o outro. Quem dialoga quer enriquecer-se com a partilha e o contributo do outro. O debate dá-se bem com o barulho. O diálogo quer silêncio para pensar e interiorizar. No debate, opõem-se ideias e convicções. No diálogo, somam-se parcelas de verdade, para uma verdade maior e comum. No debate, extremam-se campos e sobem-se muros. No diálogo, abrem-se frechas por onde passe a luz.

A vida de todos os dias mostra que é mais fácil debater do que dialogar, porque no debate se procuram louros e adeptos, ao passo que no diálogo se procura a união, para se usufruir um património que a todos pertence, mas que ninguém o tem por completo, nem o tem para si próprio. O diálogo exige humildade e respeito por quem é diferente, condição indispensável numa sociedade plural. O debate tem raízes de suficiência e o outro é sempre um adversário a vencer ou a abater. Quando em gente diferente se contrapõe a vontade de dialogar com a vontade de vencer, o caminho comum torna-se impossível.

De vez enquanto, e segundo os temas, ouço o ”Prós e Contras”, àquela hora horrível que leva a pensar que se trata de um programa à segunda-feira para quem não trabalha na terça. É um programa com algum sentido para se poder apreciar a realidade da nossa sociedade. Cada um está na sua e procura impor a sua. Se aparece algum interveniente, que julga que vai para dialogar, onde se respeite e seja respeitado, depressa se desilude e torna-se um rotulado, a quem se despreza ou se aplaude. Observar, até onde posa chegar o nosso olhar, as partes em debate ou que assistem ao mesmo, não difere da observação de um jogo de futebol com equipas em luta e claques de apoio a gritar a toda a hora, sem que o árbitro as possa calar. Mas futebol já temos que chegue.

Nunca, e menos ainda em democracia, se podem canonizar opiniões, apreciar o valor das mesmas pela imposição do maior número ou pela frequência e tempo dos aplausos. O valor de um povo reside no respeito que cada um tem pelos outros, pelos valores culturais comuns, pelo que história de todos foi e vai ensinando.

Donos absolutos, só à custa de um povo esmagado ou amordaçado. Seja nos debates televisivos, seja nos debates parlamentares, seja nas leis feitas de costas para o bem comum, seja na persistência em impor valores e substituir ou contrapor culturas.

Não será já tempo de “Prós e Contras”, mesmo com o favor das audiências, se avaliar sobre se o seu contributo social é positivo ou negativo? Sobre se educa um povo, ou se vai cavando fossos em vez de lançar pontes? Sobre se o debate ali feito fomenta ou não a aprendizagem do diálogo, necessário ao país para poder ir mais além?

Cada dia assiste-se mais a debates e não a diálogos...

1 comentário:

  1. Concordo inteiramente com o que dizes. Pena e que haja pessoas que não vislumbram a diferença. E berram. Berram muito! E não aprendem nada...

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