Eles seguem-me, mas eu não faço puto de ideia para onde estou a ir...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Carta ao meu banco

Exmos. Senhores Administradores da CGD

Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da minha lojinha de artesanato, onde parte das vossas filhas compra o material para fazer a sua pr+opria bijuteria.

Funcionaria desta forma: todos os meses os senhores e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços que presto. Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao cliente. Serviria apenas para me enriquecer sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer produto adquirido (um colar, um feltro, uma mala ouum posta-moedas e até das oficinas, etc.) o cliente pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.

Que tal?

Pois, ontem sai da CGD com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade. A minha certeza deriva de um raciocí­nio simples.

Vamos imaginar a seguinte situação: A sua filha vai à lojinha de artesanato para comprar um porta-moedas. Eu atendo-a muito gentilmente, vendo o dito porta-moedas todo fashion e cobro o serviço de embrulhar ou ensacar o artigo, assim como, todo e qualquer outra compra. Além disso, imponho taxas. Uma "taxa de acesso aos meus artigos", outra "taxa por ter novidades" e ainda uma "taxa de abertura do cartão especial cliente". Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.

Fazendo uma comparação foi o que ocorreu comigo no meu Banco.
Comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobraram-me preços de mercado. Assim como eu cobro o preço de mercado pelos meus artigos manufacturados.
Entretanto, de forma diferente de mim, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de crédito" - equivalente àquela hipotética "taxa de acesso ao porta-moedas", que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao porta-moedas, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possí­vel, os senhores cobraram-me uma "taxa de abertura de conta".
Como só é possí­vel fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa "taxa de abertura de conta" se assemelharia a uma "taxa de abertura da minha loja", pois, só é possí­vel fazer negócios comigo, depois de abrir a loja.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como "Papagaios". Para gerir o "papagaio", alguns gerentes sem escrúpulos cobravam "por fora", o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos.

Agora ao contrário de "por fora" temos muitos "por dentro".

Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no ano - os senhores cobraram-me uma taxa de 1€.

Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5€‚¬ "para a manutenção da conta" - semelhante àquela "taxa pela existência da loja na esquina da rua".

A surpresa não acabou: descobri outra taxa de 25€‚ a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela "taxa por ter novidades".

Mas, os senhores são insaciáveis.

A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.

Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações do v/. Banco.

Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?

Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma loja de artesanato. Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc., etc., etc. e que apesar de lamentarem muito e nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar estão devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal.

Sei disso.

Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma loja de artesanato nos dias que correm, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.

Sei que são legais.

Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade. O cartel algum dia vai acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma.

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